O câncer de próstata é o segundo tumor sólido mais comum no homem, ficando atrás apenas do câncer de pele, não melanoma. Ele também é o segundo tumor com maior mortalidade perdendo apenas para o câncer de pulmão.
Estima-se que 16% de todos os homens desenvolverão câncer de próstata ao longo da vida. Com mais de 65.000 novos casos por ano no Brasil, o câncer de próstata é um problema de saúde pública que não deve ser negligenciado. Cerca de 30% de todos os tumores diagnosticados no sexo masculino estão relacionados à próstata.
Apesar da elevada incidência, quando diagnosticado em estágios iniciais, este tumor tem chance de cura acima de 90%.
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino e também do sistema urinário.
Ela tem o tamanho de uma noz e peso aproximado de 25 g. Está localizada entre a bexiga e o pênis, à frente do reto e circunda a uretra (canal que conduz a urina da bexiga até o pênis). Por isso, o aumento volumétrico da próstata pode comprimir internamente a uretra gerando sintomas urinários.
O material eliminado pelo organismo durante a ejaculação é o sêmen. Ele é composto de secreções sendo, 5% testicular e espermatozoides, 30% prostática e 65% da vesícula seminal.
A próstata produz o líquido prostático que irá nutrir, transportar e proteger os espermatozoides. A nutrição é garantida pela sua alta concentração de frutose. O zinco e substâncias alcalinas protegem os espermatozoides do ambiente ácido da vagina.
O PSA (antígeno prostático específico) é uma proteína produzida exclusivamente pela próstata e está presente, tanto na corrente sanguínea, quanto no líquido prostático. Ela tem a capacidade de liquefazer o esperma garantido a mobilidade dos espermatozoides.
A próstata possui músculos lisos, que durante o processo de ejaculação irão contrair de maneira coordenada, com a musculatura do assoalho pélvico, promovendo a eliminação do esperma. Esta musculatura também desenvolve papel importante na condução de urina, desde a bexiga passando pela uretra até o meio externo.
Por último, a próstata também atua no metabolismo hormonal, pois é rica em 5-alfa-redutase que converte a testosterona na sua forma mais ativa, a di-hidrotestosterona (DHT).
Em resumo, a vitalidade da próstata é importante para a manutenção das funções reprodutiva, hormonal e urinária.
Todo o nosso corpo é composto de pequenas unidades funcionais chamas células. Durante toda a vida essas células se multiplicam, substituindo as antigas por novas. O crescimento descontrolado das células, por alguma falha no mecanismo de regulação da multiplicação, origina os tumores. Os tumores podem ser benignos ou malignos (câncer). O que determina a malignidade do tumor é a capacidade de suas células invadirem outros órgãos ou de se disseminarem pelo organismo (metástases).
Logo, o câncer de próstata é o tumor maligno que se origina na próstata.
O câncer de próstata está intimamente relacionado com o envelhecimento. É raro antes dos 40 anos de idade e acima de 60% dos casos diagnosticados, em homens com mais de 65 anos.
O risco de câncer de próstata é 2x maior em quem tem um parente de primeiro grau (pai ou irmão) com a doença. É ainda maior quando um irmão é acometido ou em múltiplos casos.
A incidência é 60% maior em homens negros, quando comparado com brancos. Além de geralmente ter características mais agressivas na raça negra.
Estudos sugerem que a dieta rica em gorduras saturadas pode estar relacionada a câncer de próstata. Homens que vivem em países com alimentação rica em gordura, tendem a consumir menos frutas e vegetais, priorizando a carne e laticínios como base da dieta.
Está associada principalmente ao aparecimento de tumores mais agressivos, aumentando o risco de falecer da doença.
A prática regular de atividades físicas, reduz o risco de progressão da doença.
Mutações dos genes BRCA1 E BRCA2 estão relacionadas ao câncer de próstata assim como, de mama e ovário nas mulheres.
É uma condição presente desde o nascimento que aumenta o risco do câncer de colorretal, assim como de outros tumores como da próstata e endométrio.
A maior parte dos pacientes com câncer de próstata não apresentam qualquer sintoma. Por isso, a consulta regular com o urologista é fundamental para o diagnóstico precoce e cura da doença.
O rastreio do câncer de próstata deve iniciar aos 40 anos de idade e é feito de maneira individualizada, ou seja, pacientes que estão sob maior risco, devem fazer o acompanhamento mais de perto, enquanto os de baixo risco, podem ser seguidos de maneira mais espaçada.
A história clínica, o exame de sangue do PSA e o exame de toque retal são as ferramentas iniciais utilizadas em todos os pacientes. Caso haja alguma alteração, o urologista pode solicitar uma ressonância multiparamétrica da próstata ou biomarcadores séricos e urinários, para determinar a necessidade de uma biópsia de próstata.
O exame que determina o diagnóstico de câncer de próstata é a biópsia de próstata.
Apesar do receio e apreensão por parte de muitos homens, se trata de um exame simples, rápido, que dura menos de 10 segundos e pode trazer informações valiosas sobre a saúde da próstata. É realizado em consultório médico e não necessita de qualquer preparo. Como a próstata fica em íntimo contato com a parede anterior do reto, ao introduzir o dedo indicador no reto do paciente, o urologista consegue palpar a parte posterior da próstata, avaliando sua consistência e tendo uma estimativa do tamanho da glândula. Cerca de 70% dos cânceres de próstata se localizam na região posterior da próstata, sendo, portanto, acessíveis ao toque.
Cerca de 15 a 20% de todos os tumores de próstata não alteram os valores de PSA e por isso o diagnóstico só é feito pelo exame de toque. Além disso, tumores que não alteram o exame de sangue do PSA geralmente são mais agressivos e necessitam de tratamento precoce para maior chance de cura.
Mas atenção, o rastreio sempre deve ser feito com exame de toque e PSA, visto que tumores pequenos ou em regiões mais anteriores da próstata podem não ser perceptíveis ao toque e a maneira de suspeitarmos é pela elevação do PSA.
Atualmente a RMP já esta indicada em pacientes com elevação do PSA ou alteração no exame de toque retal, antes mesmo de realizar a biópsia de próstata.
Em alguns casos, achados no exame de ressonância podem orientar o médico para na coleta de fragmentos da próstata durante a biópsia, aumentando sua acurácia. Em outras situações, a ressonância com muito baixa probabilidade de câncer de próstata pode evitar a realização de biópsia e motivar uma conduta de acompanhamento.
A ressonância tem um papel importante também no planejamento cirúrgico de pacientes candidatos a prostatectomia radical. Ela permite um mapeamento das lesões e sua relação com estruturas vitais como o feixe vasculho-nervoso, o acometimento de gânglios (linfonodos) ou outros órgãos da pelve como reto e bexiga.
A biópsia de próstata pode ser feita em ambiente hospitalar com sedação ou em consultório com anestesia local.
Existem 2 diferentes tipos de biópsia de próstata, a trans retal e a trans perineal.
No Brasil o mais comum é realizarmos a biópsia de próstata trans retal. Neste procedimento é introduzido um probe de ultrassom pelo ânus e são retirados de 12 a 18 fragmentos da próstata, que serão encaminhados para análise do patologista.
Cerca de 5% dos homens podem evoluir com infecção urinária ou prostatite após o procedimento pela translocação de bactérias do ânus para a próstata. Para minimizar esse problema é indicado o uso de um antibiótico como prevenção.
Após o procedimento pode ocorrer sangramento na urina e pelo ânus, de pequena intensidade, por até 72 horas.
Caso apresente febre, calafrios, parada da eliminação de urina ou dor persistente, deve-se procurar imediatamente o pronto atendimento.
Após o diagnóstico de um tumor maligno é necessário fazer exames para avaliar se o tumor está restrito ao órgão acometido ou se espalhou para outros órgãos (metástases).
Exames comumente solicitados pelo urologista para estadiamento do câncer de próstata são:
Ressonância multiparamétrica da próstata
Tomografia de abdome e pelve com contraste
Tomografia de tórax
Cintilografia óssea
Em situações especiais podem ser solicitados outros exames como tomografia de crânio ou PET- PSMA.
Cânceres de próstata de baixo risco muitas vezes dispensam a necessidade de exames complementares, pela baixa probabilidade de acometimento de outros órgãos.
O câncer de próstata é uma patologia muito heterogênea. Isso significa que existem tumores muito agressivos, os quais necessitam de tratamento imediato e multimodal e outros tumores de crescimento tão lento que apenas a observação da lesão pode ser o mais indicado para o paciente, não necessitando nenhum tratamento efetivo.
Logo, após o diagnóstico de câncer de próstata o paciente pode se enquadrar nas seguintes opções de tratamento:
Active survaillance - Observação ativa
Watchfull waiting – Observação sem intenção de tratamento
Prostatectomia radical
Radioterapia
Terapia focal – HIFU
Hormonioterapia
A cirurgia de prostatectomia radical é o procedimento cirúrgico mais realizado no mundo para tratamento de câncer de próstata. Consiste na retirada da próstata, vesículas seminais e em alguns casos dos linfonodos da região pélvica. É comumente realizada por 3 técnicas: aberta, laparoscópica ou robótica.
A técnica aberta foi utilizada por muitos anos como o padrão ouro para tratamento, curando vários pacientes desta enfermidade tão frequente. Com o desenvolvimento tecnológico as técnicas foram se aperfeiçoando no sentido de manter a segurança oncológica e promover menor trauma ao paciente, com recuperação mais precoce das atividades. Neste contexto surgiu a laparoscopia, uma forma de tratamento menos invasiva onde através de alguns pequenos orifícios são introduzidos pinças e uma câmera no abdome do paciente. A cirurgia é realizada pelo urologista através de um monitor de televisão. Porém, as limitações de movimento, de visão e a dificuldade no seu aprendizado foram alguns obstáculos que impediram a disseminação desta técnica.
Com a evolução da tecnologia surge a cirurgia robótica. Uma plataforma automatizada, com vários recursos desenvolvidos para garantir o controle total do cirurgião, aumentando significativamente a segurança do paciente. Na cirurgia robótica também são realizados pequenos furos no abdome do paciente, por onde são introduzidos os braços do robô. Em seguida, o cirurgião principal sai do campo cirúrgico e se dirige a um console onde controlará as ações do robô. Para maior segurança sempre fica um cirurgião auxiliar em campo cirúrgico.
Os benefícios da plataforma robótica são inúmeros, dentre eles destacam-se os abaixo:
Visão em 3D das estruturas permitindo melhor diferenciação dos tecidos
Amplificação de imagem, com correção de difrações oculares do médico cirurgião, fazendo com que o mesmo consiga identificar estruturas não visíveis durante a cirurgia aberta
A câmera apresenta um foco de luz na extremidade o que permite iluminar regiões que não poderiam ser vistas adequadamente na cirurgia aberta
Os braços do robô têm uma amplitude de movimento maior até que o próprio punho humano, o que permite a dissecção de espaços muito estreitos
Com melhor visão e melhores fontes de coagulação, o risco de sangramento é menor que na cirurgia aberta
Como os furos no abdome são muito pequenos, além do beneficio estético o risco de infecções é reduzido.
Tudo isso se traduz em menor tempo de internação, recuperação, rápida, retorno precoce as atividades cotidianas, menos dor pós operatória e menor risco de disfunções como a incontinência urinária e impotência.
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